Hoje, tal como em todos os outros dias, ao longo destes três anos, lembrei-me de ti.
A cada dia que passa eu recordo um novo episódio daqueles dias, recordo uma conversa, uma palavra, uma jura nunca prometida. Todos os dias eu penso em ti, seja para chorar ou para sorrir, penso em ti porque te tornaste na coisa mais constante da minha vida, em alguém que nunca irei esquecer.
Magoaste-me como duvido que alguém um dia consiga fazer, mais do que isso, roubaste parte de mim, parte do fui, parte do que deveria ser. Há dias em que me questiono se guardaste esse pedaço de mim com carinho e, infelizmente, no mesmo instante, tenho a lamentável resposta que tanto me entristece.
Sabes o que eu dava por um abraço teu? O que eu dava por um mero ‘olá’, ou por um acenar? Dava tudo de mim. Dava o que tenho e o que não tenho: por uma palavra apenas. Porque, sabes, ainda dói, a ferida ainda não sarou por completo e duvido que um dia venha a sarar, pois tudo me lembra de ti, até as estrelas que naquelas noites não brilharam, o sol que naqueles dias abafava o espaço e a lua que nos observava sem dar sinais de si. Tenho saudades. Saudades daqueles dias, daquelas noites. Tenho saudades daquele ano. Tenho saudades tuas.
Meu amor, esta será a última carta, será a última lágrima em que me deixo levar pelas recordações; em que me ausento do mundo real e me aproximo de ti.
Nunca te disse, mas esta é a principal razão pela qual te escrevo: sinto-te junto a mim, perto do meu coração. Não me surpreendo se me disseres que não te lembras de mim. Tens tanta gente na tua vida que nem te ocorre que constituis um dos pedacinhos mais especiais de certos corações. Mas, por incrível que pareça, não me importo. Pareço uma louca desesperada a quem a vida passa ao lado e nada interessa. Não o sou na totalidade. A única coisa que me difere das pessoas a que normalmente chamam de normais, é o facto de ter amado alguém com toda a minha alma e nenhum amor em troca ter recebido. Mas aqui me despeço de ti. Aqui encerro o teu capitulo aberto há mais de dois anos.
Agora as lágrimas estão secas e cansadas. Foram demais e nunca serviram para nada. Apesar desta monótona dependência, sinto-me feliz, sinto-te aqui, junto a mim. Sei que não estás, que nunca estiveste e que impossivelmente estarás. És grande parte do meu passado, mas está na hora de largar as memórias e ser capaz de viver a minha vida. Sempre que passo por ti, são estas as palavras transmitidas pelo teu olhar. Nos raros momentos em que os nosso olhos se cruzam, ouço, em palavras mudas, que nada para ti teve significado e mandas-me esquecer-te, mais uma vez. Nas ínfimas circunstâncias em que contigo convivi , todas eu era medo. Um medo maior que o receio. Medo de sentires que eu estava ali à tua espera; que estava à espera de uma oportunidade para te poder amar. Nesses momentos percebo que ainda te lembras de mim, que te lembras do que passamos, lembraste de tudo: não tão nítido como eu; mas lembras-te e isso é que me importa.
Segui em frente com um pedaço de passado ecoando-me, todos os dias, na alma. Com uma história vivida em que ainda não aceitei o fim. Mas esta é a última vez que te escrevo. É a última vez que penso nos “ses”. Hoje foi a tua última estadia na minha vida. Um dia, se por acaso o destino se encarregar de nos voltar a juntar, espero ser feliz e aproveitar o momento como sendo o primeiro, vivendo-o como sendo o último.
Espero um dia sorrir ao lembrar-me do teu nome, e agradecer-te por ter aprendido com todo o mal que inconsciente e inocentemente me causaste.
Não vou chorar mais sobre leite derramado, amanhã será outro dia: o dia em que já não fazes parte da minha vida.
Hoje, mais uma vez, dou por mim a vaguear sobre o teu mundo. Não te alcanço, nunca serei capaz de o fazer. Estás demasiado longe, demasiado distante de mim. Sempre estiveste e eu, estúpida, continuo a alimentar as minhas esperanças sem esperança. Sinto-me mal, triste, melancólica. Preciso de ti, uma só vez, mais vez. Por favor. Imploro novamente. Caio no ridículo. Mas este é o meu mundo, que insiste em ficar situado no teu. Nunca te tive e, sinceramente, achas que me podes ceder um só momento, outra vez? Nunca pensei chegar até aqui. Nunca sequer pensei na hipótese de não te conseguir jamais alcançar. Mas isto é real, é a minha triste verdade. Enquanto ris, eu choro, pensando em ti; no que fomos; no que de ti gostaria de ter novamente. Mas tudo isto são meras palavras, que solto sem pensar. Tu já não me completas e eu nem na tua mente vagueio. Mas continuas a ser parte do meu passado, que tanto me tenta manter onde não deve.
Porquê perder tempo com quem não nos merece?
Foi a primeira vez que te encarei depois da nossa discussão, ia tendo um ataque cardíaco, nunca estive assim em toda a minha vida. Não parava de tremer, talvez por te ter visto, talvez por não te poder falar, talvez por estarmos chateados, talvez por tudo isto.
De certa forma até foi bom ver-te, acabei com todas as duvidas que se apoderavam de mim.
Pensei que já te tinha esquecido, que já conseguia lidar bem com a tua ausência, mas estava enganada, não consigo, sou fraca.
Pensei que nunca mais ia pensar na hipótese de acabar com o sofrimento, mas pensei.
Percebi finalmente que isso não me ia levar a lado nenhum, ia perder muitos dos bons momentos que ainda tenho para viver, tudo o que já passei, todas as histórias de amor ou de amizade que já vivi, toda a minha vida ia desaparecer, talvez fossem poucos os que se importavam mas sei que eram alguns, e esses alguns não merecem sofrer por uma pessoa como eu que nunca sabe o que realmente sente.
Só sonho com o dia em que tudo isto vai acabar, em que possamos pelo menos ser amigos, mas não consigo sequer imaginar quando vais deixar de ser infantil, tens muito que aprender Rui, muito mesmo, pessoas como tu infantis, sem sentimentos, egoístas, não merecem nem uma lágrima derramada, não merecem um gemido de dor, um ai de sofrimento.
Dei-te tudo de mim, entreguei-me por completo, para quê? Para me devolveres o meu esforço assim? Com sofrimento e desprezo?
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. ' Quem sente, sente, quem...